G) Diálogo Final entre Heráclito e Kardec
- Vinícius Costa
- 11 de out. de 2022
- 2 min de leitura

A conversa entre Kardec e Heráclito permite duas conclusões possíveis. Primeiramente, ao encontro do pensador jônico, o codificador também percebe a matéria em estado de movimento, dividida em partes muitas vezes polares e em constantes transformações. Inclusive, a lógica de movimento, norteia o conceito que os espíritos desenvolverão sobre a evolução. Evolução tal que ocorre quando o Espírito se conecta a matéria dando a esta última direcionamento como demonstra a questão número vinte e cinco de “O Livro dos Espíritos”:
25. O espírito independe da matéria, ou é apenas uma propriedade desta, como as cores o são da luz e o som o é do ar?
“São distintos uma do outro; mas, a união do espírito e da matéria é necessária para intelectualizar a matéria.”[1]
Por outro lado, Kardec distancia-se de Heráclito quando sua teoria pensa a existência de tudo que existe por uma natureza única, material. Nesse sentido, a ideia de Heráclito de tudo ser um como apresentado aqui em seus fragmentos, distancia-se da proposta dualista inclusiva de Kardec que trata os atributos do criador como de qualidade natural diferente da criação, não estando este primeiro suscetível as transformações e movimentos da criação, por já se apresentar em perfeição. Além disso, Kardec salienta, já em uma visão próxima da fenomenológica do início da contemporaneidade, que os sentidos são limitados inclusive para percepção da própria matéria o que não se tem clareza, pela fragmentação dos textos de Heráclito, na ontologia do devir do pré-socrático. A distância da qualidade da natureza divina para a qualidade da natureza humana, então em Kardec, impede que, pelos sentidos, pelo empírico, apenas, se encontre a essência íntima de Deus:
10. Pode o homem compreender a natureza íntima de Deus?
“Não; falta-lhe para isso o sentido.”[2]
A questão dez de “O Livro dos Espíritos” evidencia a natureza, ainda, incompleta da criação que necessita do processo evolutivo para, aí sim, não mais simples e ignorante, e desenvolvido de potências até então desconhecida, compreenda-se plenamente o criador, sem, contudo, se misturar a Ele.
[1] KARDEC, Allan. O livro dos espíritos: filosofia espiritualista / recebidos e coordenados. [tradução de Guillon Ribeiro]. – 93. ed. 1. imp. (Edição Histórica) – Brasília: FEB, 2013. Pág 82. [2] KARDEC, Allan. O livro dos espíritos: filosofia espiritualista / recebidos e coordenados. [tradução de Guillon Ribeiro]. – 93. ed. 1. imp. (Edição Histórica) – Brasília: FEB, 2013. Pág. 76.
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