E) O polarismo de Heráclito
- Vinícius Costa
- 11 de out. de 2022
- 2 min de leitura

O movimento da natureza em Heráclito, essencial em sua ontologia do devir, não é, todavia, aleatório. A matéria está desarmônica pois dividiu-se em polos desde a sua criação. O movimento da matéria nasce da busca da harmonia, da busca da união do que já foi um, mas está momentaneamente separado:
“Fragmento 51.
Eles não compreendem como o que se separa consigo mesmo se une: harmonia de tensões opostas como a do arco e da lira”.[1]
Em linguagem afiadae provocativa, Heráclito exemplifica dois opostos que estão polarizados e dispersos momentaneamente em busca da reunião que unifica:
“Fragmento 57.
Mestre de muitos é Hesíodo. Creem que sabia muitas coisas, ele que nem conhecia o dia e a noite: pois são um” [2]
Em Heráclito já se presencia o incomodo com a educação grega apenas baseada nos saberes poéticos como na acidez da linguagem do filósofo em relação ao poeta grego Hesíodo. Esta crítica, como apresentado na introdução dessa parte sobre filosofia antiga, ganha força no período clássico, mas já se observa uma tendência dos pré-socráticos de se afastarem progressivamente da linguagem poética em busca de uma educação cada vez mais, exclusivamente, logosófica. Heráclito exemplifica dois opostos que estão polarizados e dispersos momentaneamente em busca da reunião que unifica: dia e noite. A matéria, portanto, como o calor e o frio, o dia e a noite, o claro e o escuro estão separados em busca de uma unificação. Essa é a verdade, a divindade que o logos de Heráclito louva:
Fragmento 67.
Deus [é] dia-noite, inverno-verão, guerra-paz, saciedade-fome; mas altera-se tal como o fogo, quando misturado com especiarias, é nomeado de acordo com o aroma de cada uma.[3]
O unicismo de Heráclito é, em si, a própria reunião da matéria cognoscível. Há dispersão da matéria por sua polarização produzir o movimento para que esses estágios polares e incompletos se movimentem em busca de sua complementação. A divindade como reunião de toda a matéria dispersa tem em Heráclito, no ocidente, a ontologia que baseia o que na modernidade será, como dito, o panteísmo em sua expressão mais direta, pois aqui o mundo único de Heráclito nem mesmo deriva -se do dualismo exclusivista, como no caso de Parmênides.
[1] HERÁCLITO, Sobre a natureza. MARCOVICH, M. Heraclitus. Editio Maior. Merida: The Los Andes University, 1967. Disponível com Tradução em português em: http://www.uern.br/professor/arquivo_baixar.asp?arq_id=1724. Pág.3 [2] HERÁCLITO, Sobre a natureza. MARCOVICH, M. Heraclitus. Editio Maior. Merida: The Los Andes University, 1967. Disponível com Tradução em português em: http://www.uern.br/professor/arquivo_baixar.asp?arq_id=1724. Pág.3 [3] HERÁCLITO, Sobre a natureza. MARCOVICH, M. Heraclitus. Editio Maior. Merida: The Los Andes University, 1967. Disponível com Tradução em português em: http://www.uern.br/professor/arquivo_baixar.asp?arq_id=1724. Pág.5.
Comments