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C) O dualismo exclusivista de Parmênides

  • Foto do escritor: Vinícius Costa
    Vinícius Costa
  • 11 de out. de 2022
  • 3 min de leitura


O poema de Parmênides começa com um prefácio de carácter mítico e simbólico composto por trinta e dois versos onde ele descreve o caminho de ascese filosófica até o encontro com a verdade. Esse trecho tem por início a seguinte parte que revela, como apresentado na contextualização dessa primeira parte, a verve poética e mitológica dos pensadores pré-socráticos:


Fragmento 1

1 Éguas que me levam, a quanto lhes alcança o ímpeto, caval

2 gavam, quando numes levaram-me a adentrar uma via loquaz,

3 que de toda parte conduz o iluminado; por ela

4 era levado; pois por ela, mui hábeis éguas me levavam

5 puxando o carro, mas eram moças que dirigiam o caminho.”[1]


Após isso, a revelação da verdade é feita por meio também de uma linguagem simbólica, onde a Musa (deusa simbólica do saber no poema) revela qual é o conhecimento verdadeiro ainda no fragmento um do autor:


Fragmento 1

22 E a Deusa, com boa vontade, acolheu-me, e em sua mão

23 minha mão direita tomou, desta maneira proferiu a palavra e me saudou:

24 Ó jovem acompanhado por aurigas imortais,

25 que, com cavalos, te levam ao alcance de nossa morada,

26 salve! Porque nenhuma Partida ruim te enviou a trilhar este

27 caminho, à medida que é um caminho apartado dos homens,

28 mas sim Norma e Justiça”[2]


Em resumo, a verdade exposta no trabalho de Parmênides, revelada pela Musa tocam os seguintes pontos: o dualismo inicial do Ser e do Não-Ser; o Ser como a verdade e o Não-Ser como a ilusão, o Ser podendo ser compreendido apenas pela racionalidade e não pelos sentidos; O Ser sendo único, imutável não gerado e, apenas ele, verdadeiro.

Tais características podem ser resumidas no fragmento oito, composto de sessenta e um versos, central do trabalho de Parmênides, das quais destaca-se os seis primeiros:


Fragmento 8

1 por mim proferida. Ainda uma só palavra resta do caminho:

2 que é; sobre este há bem muitos sinais:

3 que sendo ingênito também é imperecível.

4 Pois é todo único como intrépido e sem meta;

5 Nem nunca era nem será, pois é todo junto agora

6 uno, continuo; pois que origem sua buscarias?”[3]


Para entender Parmênides, inicialmente, separa-se o mundo em duas dimensões opostas e excludentes. O Ser que por característica de verdade tem por atributos ser Imutável, Essencial, Perfeito, Único e Atemporal e o Não-Ser, o extremo oposto, que por sua característica de ilusão tem por atributos ser Mutável, Aparente, Imperfeito, Múltiplo e Temporal. Não há possibilidade de Ser e Não-Ser coexistirem. O dualismo aqui proposto por Parmênides é necessariamente exclusivo. Portanto como o Ser é a verdade todo o resto, tudo aquilo que não é o Ser, é falso e inexistente. Como o ser habita a essência, esse mundo da aparência alcançado pelos sentidos é puramente ilusório, incluindo seu movimento. A verdade é imutável em sua essência e, na teoria do eleata, a fragmentação múltipla das coisas também leva o ser humano ao engano. Ainda no oitavo fragmento seu poema, Parmênides elucida esta questão:


Fragmento 8

36.Pois nenhum outro nem é

37 nem será além do ente, pois que Partida já o prendeu

38 para ser todo imóvel; assim será nome, tudo

39 quanto os mortais instituíram persuadidos de ser verdadeiro,

40 surgir e também sucumbir, ser e também não,

41 e alterar de lugar e variar pela superfície aparente”.[4]


A multiplicidade das coisas, bem como o movimento, é a grande ilusão humana para o pensador pré-socrático.

[1] PARMÊNIDES Da natureza. Trad. Fernando Santoro. Primeira edição limitada ao I Seminário OUSIA de Estudos Clássicos dedicado ao Poema de Parmênides em outubro de 2006. Pág 1. [2] Idem. Pág 1. [3] PARMÊNIDES Da natureza. Trad. Fernando Santoro. Primeira edição limitada ao I Seminário OUSIA de Estudos Clássicos dedicado ao Poema de Parmênides em outubro de 2006. Pág 3. [4] Idem. Pág.3

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