União entre Filosofia e Espiritismo
- Vinícius Costa
- 11 de out. de 2022
- 4 min de leitura

É possível, até mesmo provável, que muitos dos leitores que se aventurarão a ler esta obra a procuraram na possibilidade de encontrar reflexões sobre nomes importantes da história da filosofia. Se de alguma forma esses nomes, não há de se negar, são o chamariz que despertam a curiosidade para leitura desse livro por um lado, a essência dessa obra ultrapassa os substantivos conceituais e os nomes históricos e filosóficos por outro. Em verdade, a ideia central deste livro não está no discorrer dos nomes e teorias filosóficas apresentadas no curso da história humana, mas sim no elemento unificador utilizado ao apresentar cada um desses autores filosóficos conectados a Kardec: a conjunção aditiva “e”. A leitura dessa obra busca evidenciar que a história da evolução humana é a história do “e”. Ainda pouco se compreende a importância desta conjunção que aponta aos seres humanos a união representada por um simples conectivo de adição. Na forma, na metodologia, na teoria e na expectativa este livro é um tributo ao “e”. O Espiritismo apresentou-se à Terra há mais de 150 anos e o desafio enfrentado, no ontem, no agora e em seu futuro, consiste em vivenciar a união representada pela conjunção “e na linguagem, nas nossas experiências sociais.
Atentar-se ao “e”, como conjunção aditiva e conectivo lógico simbolicamente representativo fundamental da ideia de união, é algo que já está apresentado na trajetória literária-filosófica da humanidade e do Espiritismo como uma lembrança às consciências. O sonho espírita projetado para o futuro, de uma sociedade melhor que nos capacite socio e individualmente ao progresso moral, se consolidará à medida que nossos espíritos internalizem o “e” linguístico e lógico como o mecanismo solidariamente verdadeiro de evolução.
Quando Emmanuel, em 1970, escreveu - na obra psicografada por Chico Xavier - a conjunção “e” em “Vida e Sexo”[1] a mensagem de união estava clara desde o título. Em convite espiritual sagrado, o mentor de Chico clamava para que os leitores não opusessem, como a tradição moral religiosa comumente fez, a sacralidade do sexo perante a vida. Compreender estes dois fenômenos, vida e sexo, como opostos, alimentando uma tradição religiosa de culpa, iria contra o “e” de Emmanuel sugerido no título da obra. Ao pontuar a comunhão entre vida e sexo, usando a conjunção como elemento de interligação dentre estes dois fenômenos, Emmanuel deixa evidente a lógica de que, ver o mundo, apenas, em oposições adversativas, obscura o processo evolutivo, marcado pela união dos processos que o ser humano insiste em colocar em polos.
Assim, também o fez, o mestre da literatura russa e um dos homens que mais compreendeu a essência do pensamento cristão na história, Liev Tolstói, quando de sua obra prima “Guerra e Paz”[2]. Seu romance ao usar de conjunção em seu título mostra que situações aparentemente opostas como guerra e paz se unem na vida dos indivíduos narrado na história, por mais que queiramos fugir de um lado em prol de outro como expectativa de vida.
Artisticamente, Michelangelo, criou uma demonstração visual para a defesa do “e” como base da relação entre humanidade e divindade. Brilhantemente, seu afresco, “A criação de Adão”, pintado no teto da Capela Sistina na Itália, mostra o homem e sua busca de conexão com o divino a partir da busca de contato entre os dedos dos dois seres ali pintados. A união entre criatura e criador, colocando-os no mesmo proposto de integração, foi a representação gráfica que inspira a jornada evolutiva do espírito e do progresso do mundo ao encontro de Deus no Renascimento.
A defesa do ideário do “e” não significa que as diferenças em si devam ser abafadas, descaracterizadas, ou controladas, pelo contrário. Inclusive porque se assim o fosse, não existiria verdadeira união, mas, sim, apenas, domínio e poder de seres sobre outros. Respeitar -se o que é diferente é um caminho fundamental para a construção do conhecimento e das individualidades dos sujeitos que, naturalmente, em seus processos evolutivos, demarcam identidades. Enxergar as diferenças como oposições absolutas em que se busca, por meio desse ideário, eliminar um lado, pensamento, ou característica, dificulta o processo evolutivo caracterizado pelas possibilidades diversas de crescimento do indivíduo. Mesmo quando marcados como sujeitos diferentes, e individualidades separadas uma das outras a partir da criação, é possível caminhar juntos. Espírito e Espírito. Espírito e Matéria. Espírito e Deus. A trajetória do “e” deve permitir, ao ser humano que a compreende, um progresso evolutivo verdadeiro em comunhão ao invés do binômio competição-segregação.
Não é apenas coincidência, portanto, o título e os capítulos dessa obra serem de alguma maneira, e ao mesmo tempo, uma homenagem - e um convite - a união representada pelo “e”. A alma de “Espiritismo e Filosofia” aí reside. Ao unir Kardec e a mensagem dos espíritos aos filósofos que precederam e procederam ao mestre lionês,faz-se relevante a compreensão da jornada do “e”. A expectativa é que se compreendida tal importância, de busca da união como forma de resolução dos dilemas da existência do mundo, possa-se, imbuídos desse espírito, modificar os assombros e dissabores que a desunião nos causa enquanto sujeitos, sociedade, humanidade, e, por que não, Doutrina Espírita. Este é desafio ao leitor que acompanha a leitura da obra.
Parabéns pela iniciativa, Vinny.
Que o "e" possa nos ajudar a compreender o que achamos ser antagonismos.